- FODMAPS

Oligosacarídeos alimentares fermentáveis, Dissacarídeos, Monosacarídeos e Polióis (FODMAPs) e Doenças Dastrointestinais


Nutrition in Clinical Practice  

Vol 33 Agosto 2018

Autor: Nimish Vakil     

 Resumo:

        
O termo FODMAP é um acrônimo para designar os oligossacarídeos fermentáveis, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis.
A intervenção dietética sobre os FODMAPs demonstrou ter efeitos significativos na fisiologia do trato gastrintestinal, melhorando os sintomas de dor abdominal, distensão e plenitude abdominal  em pacientes portadores da síndrome do intestino irritável.
A retirada  e a reintrodução programadas  dos  FODMAPs , com a supervisão de  um nutricionista, é a maneira mais adequada  para realizar a intervenção dietética com FODMAP na síndrome do intestino irritável.
Os FODMAPs também estão presentes em fórmulas de alimentação enteral e podem exercer um papel na diarreia e na distensão abdominal em pacientes recebendo nutrição por sonda.
Novas áreas para pesquisa incluem os efeitos da intervenção dietética de FODMAPs sobre o microbioma, sobre a absorção de micronutrientes e sobre a ingestão calórica.
Uma área que se abre para pesquisas clinicas é a intervenção dietética sobre os FODMAPs em  outros distúrbios gastrointestinais.




O texto a seguir resume os principais pontos abordados no artigo de revisão publicado em Nutrition in Clinical Practice  Vol 33 N 4 Aug 2018 468-75




Oligossacarídeos Fermentáveis ​​Dietéticos, Dissacarídeos,
Monossacarídeos e Polióis (FODMAPs) e Doenças Gastrointestinais.


Autor: Nimish Vakil
(Univ Wisconsin Scholl of medicine and Public Health, USA)



1.     Introdução
FODMAP é um acrônimo para os oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis.
Os FODMAPs são carboidratos de cadeia curta que possuem as seguintes 3 características:

·         Alguns são pouco absorvidos no intestino delgado,
·         São fermentáveis ​​e
·         São osmoticamente ativos.

 O conteúdo do FODMAP dos alimentos pode ser encontrado na Tabela 1.


2.     Características dos FODMAPs:
·         Os oligossacarídeos são compostos de 3-10 monossacarídeos e encontrados em plantas
·         Os monossacarídeos e dissacarídeos são os açúcares
·         Os polióis são os álcoois de açúcar tais como sorbitol e xilitol.
·         Frutano é um polissacarídeo composto de frutose. Fructo-oligossacarídeos são frutanos com um de cadeia curta.


3.     Digestão dos carboidratos:
·         Realizada pela amilase salivar e pancreática, resultando em moléculas mais simples, como a maltodextrina e a maltose.
·         Enzimas na borda em escova do intestino delgado, (glucosidases), quebram a maltodextrina e, outras dissacaridases (lactase, sacarase e maltase), quebram a lactose a sacarose e a maltose.
·         Na ausência de lactase, a lactose passa intacta pelo intestino delgado e, chegando ao cólon distal, é utilizada pelas bactérias, produzindo compostos capazes de causar distensão e diarreia.

4.     Absorção dos carboidratos:
·         A glicose, a galactose e a frutose são absorvidas através da mucosa entérica e chegam ao fígado pela veia porta. Em baixas concentrações, a glicose é absorvida por transporte ativo, que é dependente de sódio. Em concentrações mais altas, um segundo transportador se torna ativo.
·         A galactose é absorvida usando os mesmos transportadores que a glicose utiliza.
·         A frutose é um monossacarídeo presente na dieta, como subunidade da sacarose ou como componente do polissacarídeo frutano.
Nos últimos anos, o consumo de frutose aumentou nos EUA. O motivo foi o uso maciço de xarope de milho (com alto teor de frutose) como adoçante em vários alimentos.
A frutose é absorvida por dois transportadores GLUT-2 e GLUT-5 da borda em escova do intestino delgado. Aproximadamente metade da população americana não tolera 25 gramas de frutose ao dia. O uso crescente de frutose como adoçante expõe muitas pessoas a altas doses diárias de frutose.
·         A fibra alimentar, um polissacarídeo complexo que não é absorvido, passa intacto pelo trato gastrointestinal e chega aos cólons, onde pode ser metabolizadas pelas bactérias colônicas..


Efeitos fisiológicos dos FODMAPs

Efeito na água intestinal
As dietas ricas em FODMAP aumentam o conteúdo de água no intestino devido à atividade osmótica dos FODMAPs não digeridos e não absorvidos, o que pode contribuir para o aparecimento de diarreia e distensão abdominal em pacientes portadores de hipersensibilidade visceral. (veja a seguir)

Efeitos na produção de gás nos cólons.
A passagem de carboidratos de cadeia curta não digeridos ou não absorvidos para o cólon fornece um substrato para as bactérias do cólon produzirem hidrogênio e metano.
Em pacientes com síndrome do cólon irritável, o aumento de gás está associado ao desenvolvimento de sintomas abdominais.


Ácidos graxos de cadeia curta e hipersensibilidade visceral.
Hipersensibilidade visceral é definida como uma maior sensibilidade (maior desconforto) à estimulação ou distensão intestinal, encontrada nos pacientes portadores de síndrome do cólon irritável.
Os ácidos graxos de cadeia curta, (resultantes da fermentação dos carboidratos de cadeia curta no cólon) presentes no conteúdo luminal, seriam os causadores da hipersensibilidade visceral.

Efeito no microbioma
O trato gastrointestinal abriga um grande número de organismos em um ecossistema que é único para o indivíduo e relativamente estável ao longo do tempo. A microbiota se comunica com a parede do intestino e pode influenciar a sua função.
As alterações no microbioma podem alterar a relação existente entre as bactérias e o intestino, alterando a função e criando sintomas.
Dietas que diferem no conteúdo de FODMAP mostraram ter um efeito sobre o microbioma intestinal do hospedeiro. Em pacientes com síndrome do intestino irritável, os sintomas melhoraram com uma dieta pobre em FODMAP, mas as concentrações fecais de bifidobacterias (benéficas para o os cólon) diminuíram. Cabe lembrar que a investigação sobre os efeitos da dieta FODMAP no microbioma está em sua infância.


Efeito no metaboloma
O metaboloma refere-se a todas as substâncias químicas e pequenas moléculas que são encontradas em uma amostra biológica.
Dentro do corpo humano há um metaboloma endógeno e também um metaboloma relacionado ao alimento, que é de interesse crescente.
O metaboloma alimentar é definido como a parte do metaboloma humano diretamente derivada da digestão e biotransformação dos alimentos e seus constituintes.
Vários estudos mostram que os FODMAP interferem no metaboloma relacionado ao alimento, havendo necessidade de maiores estudos para esclarecimento desta interferência.


Síndrome do intestino irritável
A síndrome do intestino irritável é uma condição médica comum e debilitante que está associada à dor abdominal, distensão e alterações no hábito intestinal.
Vários estudos parecem demonstrar que uma dieta pobre em FODMAPs seria cabaz de melhorar os sintomas do intestino irritável.

Sensibilidade não-celíaca ao glúten.
A sensibilidade não-celíaca ao glúten é um distúrbio caracterizado por sintomas abdominais que melhoram após a retirada do glúten na ausência de doença celíaca.
O trigo contém glúten, frutanos e proteínas solúveis.
Os sintomas de distensão abdominal e os sintomas gerais da síndrome do intestino irritável foram substancialmente piores em pacientes que receberam frutanos, mas não houve diferença nos sintomas entre aqueles que receberam placebo ou barras enriquecidas com glúten. Esses dados sugerem que os frutanos podem ser a causa dos sintomas em muitos pacientes que relatam sensibilidade ao glúten na ausência de doença celíaca.
Do ponto de vista clínico, é razoável tratar pacientes que apresentam sensibilidade ao glúten e que não têm doença celíaca com a abordagem dietética estruturada para a baixa dieta FODMAP.

Doença inflamatória intestinal
A doença inflamatória intestinal (doença de Crohn e colite ulcerativa) está relacionada a  alterações no microbioma fecal, e alguns pacientes com esses distúrbios relatam o agravamento dos sintomas com certos alimentos.
Uma meta-análise recente revelou que pacientes com doença inflamatória intestinal que ainda eram sintomáticos apesar do controle adequado de sua doença por meio de testes objetivos (marcadores de inflamação ou evidência endoscópica de doença ativa) tiveram melhora significativa nos sintomas abdominais com uma dieta pobre em FODMAP.

Prevendo uma resposta à dieta do FODMAP
Vários testes diagnósticos estão sendo estudados para avaliar sua capacidade de prever a resposta à dieta pobre em FODMPS.
Um destes testes é a dosagem dos compostos orgânicos voláteis nas fezes. Este procedimento foi capaz de prever a resposta á dieta reduzida em FODMAP em 100% dos casos.

Implementação de uma dieta pobre em FODMAP.
 Na prática clínica a implementação de uma dieta pobre em FODMAP consiste em 4 estágios:
1.     Visita inicial da nutricionista para orientação sobre a restrição de FODMAP
2.     Visitas semanais da nutricionista (total de 4 a 6) para reintrodução programada de FODMAP e observação.
3.     Visita da nutricionista para personalização dos FODMAP permitidos na dieta.
4.      Visitas de acompanhamento de longo prazo.


FODMAPs na nutrição enteral.
Os FODMAPs devem ser lembrados durante a alimentação enteral, principalmente quando surge a diarreia uma vez que o conteúdo do FODMAP dieta administrada pode ser a causa.
Um estudo retrospectivo de pacientes com diarreia causada por alimentação enteral na Austrália sugeriu que as fórmulas entéricas pobres em FODMAP estavam associadas a menos diarreia.
A quantificação de FODMAPs em fórmulas entéricas mostrou-se difícil devido à interferência com as dosagens in vitro de frutanos e rafinose causados ​​pela maltodextrina contida na fórmula.
Algumas fórmulas de alimentação enteral contêm frutose e outras contêm inulina, e é provável que tenham um alto teor de FODMAP.
Atualmente, não há uma lista abrangente de fórmulas entéricas com baixo teor de FODMAP nos Estados Unidos.
Deve-se notar que muitas fórmulas de alimentação enteral são acrescidas de fruto-oligossacarídeos, que é um FODMAP.

Tabela 1 FODMAP nos alimentos
Frutose
Lactose
Frutas: maçãs, cerejas, figos, manga, peras, melancias
Queijo: queijos de consistência mole (ricota,cottage, mussarela)

Legumes: alcachofras,
espargos, tomates  secos
e ervilhas

Leite: ovelha, vaca, cabra e
búfalo

Adoçantes: mel, xarope de milho rico em 
 frutose,
Produtos lácteos: iogurte,
sorvete, creme de leite, leite
 condensado
Bebidas: xerez, porto, rum
vinhos doces

 


Frutanos e galacto- oligossacarideos
Polióis
Legumes: feijão soja
Agentes edulcorantes: sorbitol, manitol.
Nozes e grãos: trigo, centeio,cevada,
 pistache , castanha de caju, 
amêndoas

Frutas: nectarinas, pêssegos,
 pêras, amoras, cerejas,
ameixas, ameixas,  melancia,lichia
Legumes: alho, alho-poró,
cebolinha, cebola, alho
 
Doces: isomalte, sorbitol,
manitol, xilitol, lactitol
Fruta: grapefruit, melancia.
Ameixas, ameixas, pêssegos, figos,
 groselhas e banana
Outros: chás (camomila e erva-doce), 
 alfarroba

Legumes: couveflor, aipo,
ervilhas, batata-doce
Outros: doces duros, caramelo,
compotas e conservas, goma de mascar, 
 chocolates, pós de proteína
Gotas para  tosse
gotas e pastilhas para a garganta

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