Risco nutricional e mortalidade


Prevalência de pacientes classificados como em risco nutricional e seu impacto sobre a evolução no hospital. Resultados do nutritionDay nos EUA


Autores: Abby C. Sauer, MPH, RD1; Scott Goates
Journal of Parenteral and Enteral NutritionVolume 43 Number 7 September 2019 pg 918–926


Sabidamente o paciente portador de desnutrição ou classificado como em risco nutricional, durante a sua hospitalização, percorre um caminho caracterizado por maior número de complicações e maior mortalidade quando comparado com a evolução dos pacientes não classificados como em risco nutricional.
Este estudo pretende traduzir em números estas afirmações, lançando mão dos dados colhidos pelo nutritiionDay em hospitais americanos.

Métodos:
  • Dados colhidos do nutritionDay do período de 2009-2015 em hospitais americanos
  • Incluídos todos pacientes com idade ≥ 18 anos atendidos fora das UTIs
  • Utilizado o Malnutrition Screening Tool (MST) para identificar os pacientes em risco nutricional
  • Desfecho avaliado: mortalidade em 30 dias após a internação


Material:
  • Total de 9959 pacientes englobando 241 hospitais
  • Características dos pacientes internados:
  • Idade média 64 anos   (59-76 anos)
  • IMC 29,19 (+/- 18,5)
  • Média de permanência no hospital 7 dias

Origem dos pacientes:
  • Clinica médica: 48,3%
  • Cardiologia clínica 14,7%
  • Ciriurgia geral 7,4%
  • Oncologia clínica: 7,6

Comorbidades mais frequentes:
  • Diabetes (28,8%)
  • Insuficiência cardíaca 23,2%
  • Outras (46,5%)

Resultados:

Estado nutricional dos pacientes:
  • Total de pacientes classificados pelo MST como em risco nutricional:   32,7 %


Relação entre ingestão de alimentos e mortalidade

Ingestão de alimentos durante a hospitalização
 Ingestão alimentar
Quantidade de pacientes
Ingestão completa das refeições
36,5%
Ingestão de ½  da refeição
25,8%
Ingestão de ¼  da refeição
25,2%
Recusaram toda a refeição
Dieta zero por ordem médica
6,9%

Ingestão alimentar e risco de morte
Ingestão alimentar
Taxa de risco de morte
Ingestão de ½  da refeição
3,24
(95% IC: 1,73-6,07)
Ingestão de ¼  da refeição
5,99
(95% IC: 3,03- 11,84)
Recusaram toda a refeição
Dieta zero por ordem médica
4,38
(95% IC: 2,00- 9,58)


Conclusões/ Comentários;

  • É elevado o número de pacientes internados que estão em risco nutricional 32,7%
  • O risco de morte foi muito maior nos pacientes que ingeriam menos da metade da refeição oferecida (3,24 vezes maior) , chegando a um risco 6 vezes maior naqueles que consumiam menos de ¼ da refeição oferecida
  • O trabalho mostrou uma relação nítida entre o risco de morte e o consumo de alimentos durante a hospitalização, ressaltando a importância do acompanhamento da ingesta alimentar de todos os pacientes durante a internação.
  • O método utilizado para identificar o risco nutricional foi o MST (Malnutrition Screenimg Tool). Este instrumento considera apenas se houve perda recente de peso e se houve diminuição na ingestão de alimentos. Não utiliza dados sobre a doença atual nem sobre o IMC.

  • A ficha do MST está mostrada a seguir. (1)

  
MALNUTRITION SCREENING TOOL
O paciente perdeu peso
recentemente ?
Não = 0 pontos
Não sei = 2 pontos
Perdeu 6-10 kg = 2 pontos
Perdeu 11-15 kg =3 pontos
Perdeu > 15 kg = 4 pontos
O paciente tem se alimentado mal devido a diminuição do apetite?
Não = 0 pontos
Sim = 1 ponto
Total de pontos:
Interpretação: Pontuação igual ou maior de 2: Risco nutricional: necessita avaliação nutricional




Ref 1:  Ferguson M, Capra S, Bauer J, Banks M. Development of a valid and reliable malnutrition screening tool for adult acute hospital patients.Nutrition. 1999;15(6):458-464.

Guidelines ESPEN - Doença hepática-5



Guidelines ESPEN 2019

Terapia Nutricional na doença hepática

Este guidelina, publicado em janeiro de 2019, é uma atualização do anterior e  visa traduzir evidências atuais relacionadas aos aspectos nutricionais e metabólicos dos pacientes adultos portadores de doença hepática.
São 85 recomendações referentes aos portadores de  insuficiência hepática aguda, esteato-hepatite alcoólica grave, doença hepática gordurosa não alcoólica, cirrose hepática, cirurgia e transplante hepático, e as lesões hepáticas associadas à nutrição diferentes da doença hepática gordurosa não alcoólioca.
Devido à extensão do guideline, este título foi subdividoco em várias partes.

Graus de recomendação
Grau
Descrição
A
Baseado em meta-análises de alta qualidade
B
Baseado em revisões sistemáticas de alta qualidade
0
Baseado em relato de casos, opinião de especialistas.
GPP
Baseado em consenso entre os especialistas

O texto completo do Guideline está disponível em: https://www.espen.org/files/ESPEN-Guidelines/ESPEN-guideline-liver-disease-2019.pdf

Parte 5
TERAPIA NUTRITICONAL
NO TRANSPLANTE E CIRURGIA



Recomendações



Recomendação 66
Os pacientes portadores de cirrose e candidatos a transplante ou cirurgia biliar, devem ser submetidos à avaliação nutricional periódica, com a intenção de identificar e tratar a desnutrição antes da cirurgia.
GR B: 100%

Recomendação 67
Os pacientes portadores de cirrose e candidatos à cirurgia devem ser submetidos ao protocolo “Fast Track Surgery” * no sentido de evitar a piora do estado nutricional.
GR: GPP  Cons: 100%
* Fast track surgery”: protocolo semelhante ao “Acerto” do Brasil.

Recomendação 68
Os pacientes portadores de cirrose e candidatos à cirurgia eletiva devem ser submetidos aos mesmos cuidados recomendados para os pacientes cirróticos não candidatos à cirurgias.
GR: GPP  Cons: 100%

Recomendação 69
Os pacientes portadores de cirrose e candidatos à cirurgia eletiva, a terapia nutricional no pré-operatório deve conter 
GR: GPP  Cons: 100%

            VET = 30-35 kcal/kg/dia
            Proteína: 1,2 – 1,5 g/kg/dia
            
Recomendação 70
Obesos devem receber:GR: GPP  Cons: 93%

VET = 30-35 kcal/kg/dia, considerando o peso ideal
             Proteína: 2,0 – 2,5 g/kg/dia, considerando o peso ideal
            
Recomendação 71
Os portadores de esteato hepatite não alcoólica (NASH), obesos ou com sobrepeso, e candidatos à cirurgias eletivas, o atendimento nutricional deve seguir as mesmas recomendações descritas para os portadores de NASH, não candidatos a cirurgias.
GR: GPP  Cons: 100%

Recomendação 72
A terapia nutricional nos pacientes com cirrose deve ser baseada nos regimes com formulação “padrão”. Os regimes baseados no uso de aminoácidos de cadeia ramificada (AACR) e/ou imunomoduladores, não trazem melhores resultados, no que se refere à morbidade e à mortalidade.
A  Cons: 100%

Recomendação 73
As criança aguardando transplante hepático, as fórmulas com AACR devem ser usadas, no sentido de melhorar o estado nutricional.
GR: B  Cons: 93%

Recomendação 74
Após a realização do transplante hepático (TH), a dieta alimentar ou a NE devem ser iniciadas dentro de 24h após o termino da cirurgia. Esta conduta tem a capacidade de diminuir a taxa de infecção no pós transplante.
 GR: GPP  Cons: 100%

Recomendação 75
Os pacientes portadores de hepatopatia crônica e candidatos à cirurgia, devem ser manejados segundo o protocolo ERAS (protocolo ACERTE no Brasil)
GR: GPP Cons: 100%

Recomendação 76
Na impossibilidade de realizar a nutrição por via oral ou enteral, deve ser iniciada a NP, visto que a NP, em comparação com a dieta zero, é capaz de diminuir as taxas de complicações e o tempo de ventilação mecânica dos hepatopatas internados em CTI.
GR: B  Cons: 86%

Recomendação 77
A NP deve ser iniciada nos hepatopatas com encefalopatia hepática nas seguintes condições:
GR: B  Cons: 100%

       Sem proteção das vias aéreas por comprometimento da tosse e deglutição
       Sem possiblidade de realizar a NE por sonda

Recomendação 78
Após a fase inicial do pós-operatório, os hepatopatas devem receber a seguinte oferta nutricional:
GR: GPP  Cons: 100%

VET: 30 -35 kcal/kg/dia
Oferta proteica: 1,2 – 1,5 g/kg/dia

Recomendação 79
Nos hepatopatas a NE deve ser iniciada por sonda colocada no estômago ou no jejuno, seguindo as mesmas recomendações estabelecidas para os pacientes não hepatopatas
GR: B  Cons: 100%
   
Recomendação 80
No pós transplante hepático, está indicado o uso de probióticos, visto que esta conduta é capaz de reduzir a taxa de infecção.
GR: B  Cons: 100%

Recomendação 81
Nos portadores de encefalopatia hepática, podem ser usadas fórmulas ricas em aminoácidos de cadeia ramificada.
GR: 0  Cons: 79%

Recomendação 82
Nos casos de transplantes, não há recomendações nutricionais a ser feitas que sejam capazes de trazer benefícios para os doadores ou que melhorem a conservação dos órgãos. O uso de Glutamina IV e/ou de Arginina não se mostrou capaz de minimizar as lesões causadas por isquemia/reperfusão do órgão doado.
GR: GPP  Cons: 100%