GER na COVID-19

HIPERMETABOLISMO E A COVID-19

 

Autores: PeyJen Yu, Hugh Cassiere,  Sarah DeRosa, Karl Bocchieri,Shiraz Yar Alan Hartman

North Shore University Hospital, NY- USA

Publicado no JPEN em 19 Junho 2020 (ahead of print)

 

 

Introdução:

O hipermetabolismo tem sido encontrado em doenças graves, como trauma, sepse, SDRA e queimaduras extensas.

Nossa hipótese é de que os pacientes com COVID 19 grave, possam desenvolver um estado caracterizado por hipermetabolismo, que talvez seja um fator contribuinte importante para as grandes demandas de ventilação e oxigenação presentes nestes pacientes.

 

Métodos

O gasto energético em repouso (GER), a produção de CO2 (VCO2) e o consumo de oxigênio (VO2) foram medidos por calorimetria indireta em sete pacientes gravemente enfermos, em ventilação mecânica, com COVID 19.

As características destes pacientes estão na tabela 1.

 

Resultados

A mediana do GER encontrado foi de 4044 Kcal / dia, valor este que chega a ser 235,7% (± 51,7%) maior do que o previsto.

A mediana do VCO2 foi de 452 ml / min (295 a 582 ml / min) e a mediana do VO2 foi de 585 ml / min (416 a 798 ml / min).

 

Conclusão

Os resultados mostram que os pacientes estudados (gravemente enfermos com COVID 19 em ventilação mecânica) apresentam hipermetabolismo extremo.

Estes achados talvez possam explicar as grandes dificuldades encontradas durante a ventilação mecânica destes pacientes.

Essas observações podem sugerir a necessidade de aumentar a oferta nutricional para além das 15-20 kcal / kg /dia atualmente recomendada para pacientes portadores de Covid-19 grave.

Embora os pacientes com SARA tenham GER aproximadamente 30% acima do GEB, observamos que a maioria dos pacientes com COVID-19 tem GER superiores a 200% de GEB.

 

Tabela 1

Pacientes

Idade

IMC

GER medido*

GER calculado*

VO2**

VCO2**

1

62

26,6

5186

1733

582

750

2

74

24,6

2845

1296

303

416

3

70

37,5

3052

1865

295

455

4

57

28,1

4044

2108

452

585

5

57

27,4

3952

1955

468

565

6

69

24,1

4282

1617

401

642

7

55

25,2

5414

1753

555

798

 

Legenda: * kcal/dia  ** ml/min  GER calculado= Equação de Penn State


Nutrição na Covid-19

GUIDELINES ESPEN: TERAPIA NUTRICIONAL EM PACIENTES COM COVI-19

 

Autores: Rocco Barazzoni, Stephan C. Bischoff, Zeljko Krznaric, Matthias Pirlich, Pierre Singer, endorsed by the ESPEN Council

 

Acesse a íntegra do guideline aqui. 

 

 Prevenção e tratamento da desnutrição nos portadores de Covid-19

 

Recomendação 1:

Os pacientes que tem maior risco de morte ou de complicações caso adquiram a covid-19, (i.e: principalmente idosos e portadores de comorbidades, devem ser submetidos avaliados com vistas a presença de desnutrição através da triagem nutricional e se necessário, com a avaliação nutricional completa. A triagem deve constar ser feita usando os critérios da ficha MUST para os pacientes ambulatoriais ou da ficha NRS_2002   para os hospitalizados.

 

 

Recomendação 2:

Os portadores de desnutrição devem seguir a orientação nutricional fornecida por profissionais com capacitados em terapia nutricional.

Resumidamente as necessidades nutricionais são:

 Necessidades diárias de energia (calorias totais)

       27 kcal/kg/dia para os portadores de comorbidades, com mais de 65 anos

       30 kcal/kg/dia para os portadores de comorbidades que estão abaixo do peso

       30 kcal/kg/dia para os demais idosos

Necessidades de proteínas:

       1 g/kg/dia nos pacientes idosos

       > 1 g/kg/dia para os portadores de comorbidades, com a finalidade de evitar a perda de peso, reduzir o risco de complicações no hospital e facilitar a recuperação funcional.

Necessidades de carboidratos e gorduras

       As oferta de carboidratos e gorduras para atender as necessidades nutricionais deve respeitar a proporção de 70:30.

* A oferta de 30 kcal/kg/dia aos pacientes que estão abaixo do peso deve ser atingida de uma maneira lenta e progressiva devido ao risco da síndrome do “over feeding”

 

Recomendação 3:

Os portadores de desnutrição devem receber suplementos contendo vitaminas e minerais em quantidades adequadas.

 

Recomendação 4

Os pacientes em quarentena devem manter a atividade física regular, lançando mão das precauções adequadas.

 

Recomendação 5:

Os suplementos nutricionais orais (SNO) devem ser usados quando não for possível atender as necessidades nutricionais do paciente com a dieta alimentar.

Quando usados os SNO devem fornecer pelo menos 400 Kcal/dia com 30g ou mais de proteínas /dia e precisam ser mantidos por pelo menos 1 mês.

A eficácia e os benefícios obtidos com o uso do SNO deve ser avaliados a cada 30 dias.

 

Recomendação 6:

Nos pacientes portadores de comorbidades, internados em hospitais e naqueles idosos que não conseguem atender suas necessidades nutricionais através da dieta alimentar associada a SNO, deve ser iniciada a nutrição enteral. A Nutrição parenteral deve ser considerada casa o NE não seja capaz de atingir os objetivos nutricionais.

 

Recomendação 7:

Os pacientes internados com covid-19 não entubados que não conseguem atender suas necessidades nutricionais através da dieta oral, a seguinte sequência de intervenções deve ser realizada.

       Uso de SNO

       Nutrição enteral

       Nutrição parenteral periférica

  

Recomendação 8:

Nos pacientes portadores de covid-19 e em ventilação mecânica invasiva, deve-se iniciar a NE através de sonda com extremidade no estomago.

A colocação da sonda em posição pós-pilórica está indicada nas seguintes situações.

       Intolerância à NE gástrica mesmo após a otimização dos procinéticos.

       Pacientes em alto risco de broncoaspiração

Cabe lembrar que a posição prona, por si só, NÃO representa contraindicação nem limitação para o uso de NE.

Os pacientes em ventilação mecânica as seguintes aportes nutricionais:

Energia:

       Nos primeiros dias prescrever < de70% das necessidades energéticas diárias não estiver disponível a calorimetria

       Aumentar para 80-100% das necessidades a partir do 3º dia

       Nos pacientes em que o gasto GET for estimado por meio de fórmulas, seria preferível manter o aporte de 70% das necessidades diárias durante a primeira semana.

Proteínas:

       Atingir 1,3 g/kg/dia de uma maneira progressiva.

       Nos obesos usar o peso corrigido para o cálculo.  PC = PI + (PA – PI) x 0,33

  

Recomendação 9:

Os pacientes da UTI que não toleram a nutrição enteral plena durante a primeira semana, o início da NP deve ser discutido caso a caso. A NP não deve ser iniciada até que todas as estratégias para maximizar a tolerância à EN tenham sido tentadas.

 

Limitações e precauções:

A progressão da terapia nutricional até atingir todos os objetivos nutricionais deve ser realizada com cautela nos pacientes em ventilação mecânica.

 

 Contraindicações:

A NE deve ser adiada:

       Em presença de choque não controlado e má perfusão tecidual.

       EM caso de hipoxemia, hipercapnia ou acidose não controladas com risco de vida.

 

Precauções durante o período inicial de estabilização.

A NE em dose baixa pode ser iniciada:

       Tão logo haja controle hemodinâmico (após reposição volêmica ou vasopressores), permanecendo a vigilância para detectar o surgimento de isquemia entérica.

       Nos pacientes com hipoxemia “estável” e hipercapnia permissiva ou estável.

       Nos pacientes estáveis, mesmo durante a ventilação em posição prona, a NE pode ser iniciada, respeitando as seguintes recomendações:

o   Oferta energética a ser alcançada de 20 kcal/kg/dia

o   Iniciar com 50 a 70% do calculado até o dia 2

o   Atingir 80 a 100% do calculado em torno do dia 4

o   Atingir a oferta de 1,4 g/kg/dia de proteínas nos ias 3 a 5.

o   Administrar a NE no estomago e posicionar a sonda pós-pilórica caso o resíduo gástrico seja maior que 500 ml.

o   Mesmo na ausência de evidencias fortes, pode fornecida NE enriquecida com ácidos graxos ὠ-3 no sentido de contribuir para melhora da oxigenação.

o   Manter a glicemia na faixa de 108 a 148 mg%

  

Recomendação 10:

Nos pacientes do CTI com disfagia depois da extubação, devem receber dietas de consistência adequada à sua capacidade de deglutição.

Nos pacientes em que o distúrbio da deglutição se acompanhada de risco de broncoaspiração devem receber NE. Naqueles em que o risco de broncoaspiração é grande, a NE deve ser pós pilórica, caso esta não seja possível, estaria indicada a NP temporária.

 

 Considerações finais:

A intervenção e a terapia nutricional devem ser consideradas como parte integrante do atendimento médico aos portadores de Covid-19, sejam eles pacientes da UTI, da enfermaria ou pacientes ambulatoriais.